Estado busca mulheres produtoras fornecedoras para o Leite pela Vida

Eliane Francisca Guimarães, 47, é formada em economia, mas há 15 anos largou a profissão para morar na roça. Maria Clara Torres, 25, moradora de São João do Pacuí, no Norte de Minas, foi criada em fazenda e nunca pensou em sair. Em comum, elas têm no leite a fonte de sobrevivência.

Eliane e Maria Clara estão entre as 467 mulheres fornecedoras (15,4%) do Leite pela Vida, programa de combate à fome e à desnutrição de cidadãos que estejam em situação de vulnerabilidade social e em estado de insegurança alimentar e nutricional. Representam, também, exemplos de produtoras que a Secretaria de Estado de Desenvolvimento e Integração do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Sedinor) busca, no estado, para alcançar a determinação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) de assegurar a participação de pelo menos 30% das mulheres entre os produtores fornecedores do programa.

“Apesar da natureza da atividade leiteira ser predominantemente masculina, as mulheres também podem e devem estar à frente dos negócios, inclusive porque realizam a gestão das finanças de forma muitas vezes mais eficiente”, ressalta a coordenadora do Leite pela Vida, Gilcilene Oliveira.

Foi assim com Eliane Guimarães, 47, fornecedora do programa. Ela formou-se em economia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), de onde vieram os conhecimentos que, hoje, aplica na gestão do negócio familiar. “Vim pra roça em 2001, pois não achava emprego bom na minha área. Comecei a produzir leite em pequena quantidade, para fazer queijo e requeijão. Depois, fui vendo que era uma atividade lucrativa, e que se eu criasse um gado melhor, conseguiria uma boa renda todo mês”, conta.

Atualmente, Eliane produz uma média de 100 litros de leite por dia, que são entregues para os laticínios – como são chamados os locais responsáveis pela captação, beneficiamento e distribuição do leite dentro do programa. “Não me arrependo de ter largado a profissão de economista, até porque a exerço aqui também. Adoro trabalhar na roça”, diz.

Maria Clara Ferreira, 25, por sua vez, começou a entregar para o programa há cerca de três anos. “No início era bem pouco, mas com o passar do tempo fomos criando mais interesse, vendo que podia dar uma renda boa”, relata. Quando produzia 45 litros diários, Maria Clara não tinha renda fixa, por não ter comprador certo. “Hoje, produzo, em média, 140 litros, mas chego até 200, e tenho dinheiro garantido todo mês”, comemora.
Procuram-se vaqueiras
Para incentivar a participação da mulher, o Sistema Sedinor/Idene tem feito parceria com os municípios, para identificar as agricultoras familiares que possam fornecer o leite para o programa.

“Sabemos que esta não é uma meta fácil, considerando que, especialmente nas comunidades rurais, ainda prevalece a cultura de que as mulheres sejam responsáveis apenas por cuidar da casa e dos filhos, ficando os homens responsáveis pelos negócios. Precisamos sensibilizar essas famílias sobre a importância da participação das mulheres na atividade econômica familiar, o que, certamente, vai influenciar na melhoria da renda e da sua autoestima”, afirma o secretário de Estado de Desenvolvimento e Integração do Norte e Nordeste de Minas Gerais, Paulo Guedes.

O programa funciona da seguinte forma: o Governo Federal estabelece diretrizes, normas e preços praticados no programa; o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – Consea realiza o controle social; por fim, os escritórios regionais do Idene identificam e cadastram produtores fornecedores e beneficiários consumidores, além de acompanharem toda a execução do programa no local.

Segundo a coordenadora, para ser fornecedor do programa, a produtora ou produtor deve possuir uma Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Com esse documento, os agricultores familiares podem participar do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

Gilcilene lembra, ainda, que a declaração é emitida por núcleo familiar e pode ter dupla titularidade. “Queremos ter mais mulheres com a DAP em seu nome, para ela receber o recurso em sua conta e fazer a gestão do negócio. E é uma fonte de renda, pois temos muitas famílias que sobrevivem com o recurso do leite vendido para o programa”, incentiva Gilcilene. Segundo ela, outra exigência para participar do programa é que a mulher tenha uma conta bancária em seu nome.

O Leite pela Vida é o nome dado ao Programa de Aquisição de Alimentos, modalidade Incentivo à Produção e ao Consumo de Leite. A estratégia propõe a distribuição gratuita de leite adquirido diretamente da agricultura familiar para aqueles que mais necessitam.

Evanilza de Jesus Pereira mora no pequeno município de Couto de Magalhães de Minas, no Alto Jequitinhonha, é uma das beneficiadas. Mãe de primeira viagem, ela se dedica, desde os 23 anos, a cuidar de casa e da pequena filha. Para ela, o leite recebido a partir do programa garantiu uma alimentação mais saudável para o bebê, de cinco meses de idade.

“Recebo desde que fiq00uei grávida. O programa me ajudou muito porque agora ela toma o leitinho todo dia, que ajuda no crescimento. Imagina comprar leite toda semana? Antes, só tinha leite em casa quando minha sogra trazia uma caixinha”, conta.

Diferencial

O preço praticado pelo Leite pela Vida é balizador para a cotação do preço do leite no estado. Isto é, o preço de mercado do leite tem sempre como referência o valor pago pelo programa. “Este é um ponto relevante, porque além de nortearmos o mercado, resguardamos os produtores, que recebem um valor justo”, explica a coordenadora do Leite pela Vida, Gilcilene Oliveira. Além disso, o fornecedor recebe o dinheiro direto na conta, podendo realizar a aquisição de insumos de acordo com seu interesse e necessidade.

Atualmente, o Governo do Estado repassa o valor de R$ 1,67 por litro de leite, sendo que R$ 0,97 é pago aos produtores e R$ 0,70 para os laticínios responsáveis pela captação, beneficiamento e distribuição do leite.

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