Emater-MG orienta produtores de leite e queijo sobre como amenizar impactos da pandemia
A pandemia do coronavírus tem gerado dificuldades para a comercialização de leite e queijos, segundo produtores rurais mineiros. Para amenizar esses problemas, técnicos da Emater-MG têm orientado a adoção de diversas medidas para diminuir impactos e prejuízos.
A redução dos custos de produção é um exemplo dessas orientações. No município de Porteirinha, no Norte de Minas, no início da paralisação do comércio, pecuaristas doaram parte da produção de leite para instituições filantrópicas, pois não conseguiram vendê-la. “Muito leite foi destinado a instituições de assistência a crianças e adolescentes, asilos e distribuído na periferia do nosso município”, diz o técnico da Emater-MG, Diogo Franklin.
No início de abril, este cenário apresentou melhora. A pecuária leiteira do município vem reagindo: os produtores diminuíram a produção e estão conseguindo comercializar. “As queijarias voltaram a produzir. Isso é importante porque este é o principal destino do leite aqui do município e da região. Também foram feitos alguns ajustes com os laticínios e a captação não foi suspensa”, diz Franklin.
O pecuarista Marcus Vinícius Santos, de Porteirinha, adotou algumas medidas de redução de gastos. Ele diminui o número de ordenhas e não está oferecendo concentrados (alimentos como caroço de algodão e farelo de soja) para os animais. “Isso é para produzir menos leite e ter um destino para esse leite. Muitos tiveram de parar de produzir porque não estava tendo saída”, diz o pecuarista.
Recomendações
Uma das principais sugestões dos técnicos da Emater-MG para evitar prejuízos na pecuária leiteira é a redução de gastos com a alimentação dos animais. Segundo o coordenador técnico regional da empresa, Antônio Domingues, a diminuição de ração para as vacas, quando possível, deve ser gradual. “Reduz-se um terço por semana para evitar problemas de saúde. É preciso colocar os animais com alimentação mais a pasto e misturar os ingredientes que compõem a ração. As vacas que estão com pouco leite devem ser secadas”, afirma.
Domingues orienta o aumento do plantio de capim para que o rebanho tenha maior quantidade de um alimento barato no período de estiagem. Outra dica é a formação de grupos de produtores para realização de compra conjunta, o que facilita obter melhores preços.
Mercado
Apesar das dificuldades enfrentadas pelo setor devido à Covid-19, o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios de Minas Gerais, José Antônio Bernardes, não espera uma queda brusca no preço pago pelo litro do leite ao produtor e nem uma paralisação na captação dos laticínios. “Até o momento não está tendo crise de produção. Há casos específicos em função das indústrias regionais. O queijo sofreu um primeiro impacto, mas o leite foi absorvido de outras formas por outras cadeias produtivas”, diz.
De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), o ano de 2020 começou favorável para a pecuária leiteira, com preços mais elevados, em função de uma redução da oferta do produto. Para o analista de agronegócios da Faemg, Wallison Lara, com a pandemia, houve uma busca maior nos supermercados por produtos com mais durabilidade, como o leite longa vida, o que gera concorrência entre os laticínios. “Não há receio de desabastecimento no atacado ou no varejo, pois as indústrias de pequeno e médio porte estão fazendo captação local”, afirma.
O pesquisador da Embrapa, Glauco Carvalho, diz que ainda é muito cedo para saber quais os reais impactos no valor pago pelo litro de leite ao produtor. No cenário atual, segundo ele, é possível que esse preço não sofra grandes variações. Isso porque a atividade está entrando no período de entressafra e a oferta de leite nacional ou importado no mercado é baixa. “Por enquanto, o mercado de leite em pó e UHT está dando uma segurada. Já o leite spot, aquele comercializado entre as empresas, está recuando. Essa é a grande preocupação, pois é esse valor que tem maiores reflexos na quantia paga ao produtor”, afirma.
Buscando garantir o abastecimento à população, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) autorizou que os estabelecimentos sob inspeção federal recebam leite a granel ou de uso industrial de estabelecimentos com inspeção municipal ou estadual. “É uma notícia importante. Dessa forma, os laticínios de menor porte, distribuídos em diversas regiões do estado poderão manter as suas atividades”, ressalta o diretor técnico da Emater-MG, Feliciano Nogueira.
A pecuária leiteira está entre as principais atividades agropecuárias de Minas Gerais. O estado é o maior produtor nacional de leite. Em 2018, segundo dados da Secretaria de Estado da Agricultura, pecuária e Abastecimento (Seapa), os pecuaristas mineiros produziram 8,9 bilhões de litros.
Queijo
Há 30 mil produtores de queijo artesanais em Minas Gerais. Alguns relatam dificuldades para manter a atividade devido aos impactos da Covid-19, como o fechamento do comércio. De acordo com o coordenador técnico estadual da Emater-MG, Milton Nunes, essa situação já teve reflexo na redução das vendas e na queda do preço. “Há, de fato, um problema de venda, que se inicia com o fechamento das pequenas lojas e culmina com a diminuição da circulação de dinheiro no mercado. E nesse cenário, dá-se prioridade às coisas essenciais”, diz.
Nunes ressalta que as regiões turísticas são as mais afetadas. “Na da serra da Canastra, Serro, Campo das Vertentes, regiões onde temos muitos turistas, tivemos uma queda grande no valor pago ao produtor e na quantidade de queijo vendido”, frisa.
Produtora de queijo no município de Alagoa, Sul de Minas, Thaylane Siqueira Guedes conta que, além da redução da demanda pelo produto, enfrenta dificuldades para receber o que havia vendido. “Já tínhamos feito as entregas e demos os prazos para os clientes. Na hora de fazer o pagamento, o pessoal não conseguiu porque os comércios já estavam fechados”.
As orientações são diminuir a produção, reduzir os custos e armazenar queijos para a maturação, visando a comercialização futura. O coordenador da Emater-MG, Milton Nunes, sugere que os produtores se concentrem também nas boas práticas agropecuárias e de fabricação para garantir a qualidade do produto. “É preciso rever onde é possível diminuir custos para que o queijo possa ser produzido de forma sustentável e que a produção não pare”, afirma.
Medidas que, segundo a Associação de Produtores de Queijos de Araxá, região do Alto Paranaíba, já estão sendo seguidas pelos produtores. “Os custos foram reduzidos drasticamente para se adaptar ao novo fluxo de caixa. Alguns começaram a fazer venda parcial de leite”, conta o presidente da entidade, Wilson Menezes.
Agencia Minas