Coronavírus põe Minas em emergência. Saúde se arma para o ‘pior cenário’
Os primeiros casos de contaminação pelo novo coronavírus dentro do Brasil, na chamada transmissão comunitária da doença conhecida como COVID-19, dispararam o sinal de alerta e levaram o governo de Minas a entrar em estado de emergência em saúde. Com 307 pacientes sendo monitorados sob suspeita de contágio e casos importados confirmados em Divinópolis (Região Centro-Oeste) e Ipatinga (Vale do Rio Doce), autoridades sanitárias mineiras trabalham com “o pior cenário possível” e já consideram providências que reduzam a circulação e concentração de pessoas, como o fechamento de escolas e suspensão de grandes eventos.
Será preciso também reforçar a quantidade de leitos de CTI disponíveis para dar retaguarda ao atendimento, já que o estado contabiliza menos de 800 vagas de terapia intensivas disponíveis atualmente em território mineiro. Por iniciativa própria, hospitais e entidades de ensino – em ambos os casos, sobretudo na rede privada – já começam a instituir regras excepcionais diante da ameaça, como proibir visitas a doentes ou cancelar eventos.
Plantão 24 horas
O decreto de emergência em saúde, publicado ontem, permite a autoridades sanitárias estaduais agir compulsoriamente com pacientes que eventualmente recusarem atendimento, determinando a realização de exames médicos, testes laboratoriais, vacinação e tratamentos médicos, além da aquisição de serviços, com pagamento posterior de indenização, caso necessário. Oficializa ainda a criação de um gabinete de crise para tratar de assuntos relacionados ao novo coronavírus. O Centro de Operações de Emergência em Saúde terá plantão 24 horas por dia, para monitoramento e estudo de casos, além da atuação na tomada de decisões e organização das ações de enfrentamento.
Ao anunciar ontem o decreto de emergência, a Secretaria de Estado da Saúde informou que admite adotar medidas mais restritivas nos próximos dias. “Se houver grandes eventos em locais fechados, pode ser que a orientação seja de não realização, mas de forma oficial não há motivo para a população entrar em quarentena, nem para pânico”, afirmou a diretora de Vigilância e Agravos Transmissíveis, Janaína Almeida, em entrevista coletiva concedida ontem para tratar do assunto. Segundo ela, não havia até ontem orientação do Ministério da Saúde para suspensão das aulas, por exemplo, mas a medida não está descartada.
Redução de pessoas em ambientes coletivos
Na mesma linha, entre outras ações, o subsecretário de Políticas e Ações de Saúde, Marcílio Dias Magalhães, admitiu que “a redução das pessoas em ambientes coletivos” pode ser uma próxima etapa das providências oficiais. De forma imediata, Janaína Almeida explicou a importância do decreto de situação de emergência em saúde pública, publicado ontem. “A medida tem o objetivo, principalmente, de não ter que enfrentar barreiras burocráticas em processos de compra (de insumos) e contratação (de pessoal). Ela permite o incremento de recursos humanos, fortalecimento dos serviços, aquisição de bens e serviços de forma mais ágil, como a pandemia precisa”, acrescentou a diretora.
Ela afirmou que o governo trabalha com o pior cenário para enfrentamento do coronavírus. “Já existem dois casos confirmados por aqui. Além disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já classificou a situação como pandemia (epidemia mundial)”, justificou a dirigente. A SES sustenta não ter ainda uma projeção de quantas pessoas podem se infectar com o novo vírus no estado. Em São Paulo, autoridades de saúde projetam 460 mil casos de contaminação pela Covid-19.
Dos 2.795 leitos de terapia intensiva vinculados ao Sistema Único de Saúde em Minas, apenas 27% estão vazios, informa a Saúde estadual, o que representa 754 vagas disponíveis para todo o estado. O subsecretário informou que o governo mobiliza esforços para a liberação de leitos de UTI para atender os atingidos pela doença, e que pretende adaptar leitos comuns para cuidados intensivos. “Estamos trabalhando no aluguel e compra de kits para potencializar leitos como uso de CTI. E pretendemos reduzir a quantidade cirurgias eletivas. Deixar operações que podem ser adiadas para ser feitas em dois, três meses, quando já teremos passado a fase mais aguda do coronavírus”, disse.
Risco de colapso
Nos casos em que há necessidade de hospitalização para tratamento da COVID-19, o período de internação é de aproximadamente 23 dias, o que pode levar ao colapso do sistema de saúde. Por isso, além da liberação de vagas via adiamento das cirurgias eletivas, o estado conta com o estreitamento de parcerias com a rede privada de saúde.
No campo da prevenção, a principal medida citada pela Saúde estadual é a antecipação da vacinação contra a gripe – estratégia anunciada pelo governo federal em 27 de fevereiro. O início da imunização em massa está previsto para 23 de março, com foco prioritário em idosos e profissionais de saúde. A vacina não protege contra a COVID-19, mas sim contra tipos de influenza (família de vírus à qual pertence o H1N1, por exemplo). A antecipação da campanha, no entanto, ajuda os profissionais de saúde a diagnosticar – por eliminação – eventuais casos da doença, já que os vacinados estarão imunes a parte delas. A segunda etapa será voltada para portadores de doenças crônicas.
Fonte: EM