Artigo: A Reencarnação da Bíblia
Por Ernane Borges Diniz
A reencarnação não é uma opinião, um sistema, como uma opinião política ou social, que se pode adotar ou recusar; é um fato ou não o é; se é um fato, é inútil não ser do gosto de todo o mundo, tudo o que se disser não o impedirá de ser um fato. (KARDEC, 1993b, p. 266)
Provavelmente, uma pergunta nos farão: “Se é assim, por que, então, você está se preocupando com isso? ” Nosso objetivo e preocupação é, em primeiro lugar, provar aos recém-chegados ao Espiritismo que a reencarnação é ensinamento bíblico e, em segundo, demonstrar aos ortodoxos que vivem alegando não estar a reencarnação na Bíblia.
Há uma série de perguntas sem respostas se levarmos em conta ser a vida única, ou seja, não existir reencarnações nas quais o espírito ou alma, como queiram, possa progredir em conhecimento e moralidade.
Uma delas é: se nossos espíritos são criados no momento do nascimento, como explicar que numa mesma família os filhos são completamente diferentes uns dos outros, considerando que recebem dos pais a mesmíssima educação? Além disso, vê-se que muitas crianças não “morrem de amores” por um dos pais, o que nos leva a concluir que esse desamor foi algo que Deus colocou em seus corações.
A genialidade é outra coisa que deixa embaçados os antirrencarnacionistas, pois eles só podem explicá-la levando-se em conta que Deus estabelece privilégios, apesar desta afirmação em contrário: “Deus não faz acepção de pessoas” (Atos 10,34, 15,9; Romanos 2,11, Gálatas 2,6, Efésios 6,9, Colossenses 3,25 e 1Pedro 1,17)
Como explicar a utilidade da vida para todas aquelas crianças que nascem com deficiência mental? Por que umas nascem cegas, aleijadas, idiotas, e as mais variadas doenças degenerativas, enquanto milhares de outras nascem perfeitas?
Por mais que se queira encontrar as respostas, para todos esses questionamentos, na crença da unicidade da vida, não se logrará êxito, pois jamais podemos deixar de levar em conta que Deus é justo e o que dá para um, certamente, dará para todos.
Antes de nascer a criança já viveu e a morte não é o fim. A vida é um evento que passa como o dia solar que renasce. Seria esse texto de 3.000 a.c., conforme citação de Picone-Chiodo, tirada de livro de Fontane sobre o Egito.
O homem volta à vida várias vezes, mas não consegue recordar-se das existências prévias, exceto de vez em quando, num sonho ou pensamento relacionado a algum acontecimento duma vida anterior. No fim, todas as suas vidas ser-lhe-ão reveladas. Esta afirmativa é do “Papyrus Anana”, datado de 1.320 a.C.
Flavius Josephus (37 a 103 a. D.), intelectual e historiador judeu que em sua obra “História dos Hebreus”, falando dos fariseus, grupo ao qual pertencia, afirma que: “Eles julgam que as almas são imortais, que são julgadas em um outro mundo e recompensadas ou castigadas segundo foram neste, viciosas ou virtuosas…”.
Confirmando a crença na reencarnação dos judeus contemporâneos de Jesus, podemos ver em algumas passagens dos Evangelhos, nas quais vê-se que pensavam que ele poderia ser João Batista, Elias, Jeremias ou alguns dos profetas (Mateus 16,13-14, Marcos 6, 14-15; 8,27-28-, Lucas 9,7-8, 18-19.
Isso prova que os judeus acreditavam, sim, na reencarnação, pois, excetuando-se João Batista, por ter sido contemporâneo de Jesus, todos os outros personagens mencionados somente via reencarnação poderiam animar o corpo de Jesus, cujo pai e mãe todos conheciam.
Vamos ver parte do que se encontra na Bíblia sobre a preexistência da alma e reencarnação.
- Eclesiastes 3,15: “O que existe, já havia existido; o que existirá, já existe, e Deus procura o que desapareceu”.
- Sabedoria 8,19: “Eu era um jovem de boas qualidades e tive a sorte de ter uma boa alma, ou melhor, sendo bom, vim a um corpo sem mancha”.
- Isaías 49,1: “Nações marinhas, ouvi-me, povos distantes, prestai atenção: o Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome;
- Jeremias 1,4-5: “Recebi a palavra de Javé que me dizia: ‘Antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci; antes que você fosse dado à luz eu o consagrei, para fazer de você profeta das nações’”.
- Efésios 1,3-4: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo: Ele nos abençoou com toda bênção espiritual, no céu, em Cristo. Ele nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo para que sejamos santos e sem defeito diante dele, no amor”.
- Malaquias 3,1.23-24: “Eis que enviarei o meu mensageiro para que prepare um caminho diante de mim. Eis que vos enviarei Elias, o profeta, antes que chegue o Dia de Iahweh, grande e terrível. Ele fará voltar o coração dos pais para os filhos e o coração dos filhos para os pais, para que eu não venha ferir a terra com anátema”.
- Mateus 11,7-15: “Os discípulos de João partiram, e Jesus começou a falar às multidões a respeito de João: ‘O que é que vocês foram ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? O que vocês foram ver? Um homem vestido com roupas finas? Mas aqueles que vestem roupas finas moram em palácios de reis. Então, o que é que vocês foram ver? Um profeta? Eu lhes afirmo que sim: alguém que é mais do que um profeta. É de João que a Escritura diz: ‘Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente; ele vai preparar o teu caminho diante de ti’. Eu garanto a vocês: de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino do Céu é maior do que ele. Desde os dias de João Batista até agora, o Reino do Céu sofre violência, e são os violentos que procuram tomá-lo. De fato, todos os Profetas e a Lei profetizaram até João. E se vocês o quiserem aceitar, João é Elias que devia vir. Quem tem ouvidos, ouça’”.
- Marcos 9,2-4.9-13: “Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos, para um lugar retirado sobre uma alta montanha. Ali foi transfigurado diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas, de alvura tal como nenhum lavadeiro na terra as poderia alvejar. E lhes apareceram Elias com Moisés, conversando com Jesus. Ao descerem da montanha, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, até quando o filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos. Eles observaram a recomendação perguntando-se que significava ‘ressuscitar dos mortos’. E perguntaram-lhe: ‘Por que motivo os escribas dizem que é preciso que Elias venha primeiro? Ele respondeu: “Elias certamente virá primeiro, para restaurar tudo. Mas como está escrito a respeito do Filho do Homem que deverá sofrer muito e ser desprezado? Eu, porém, vos digo: Elias já veio, e fizeram com ele tudo o que quiseram como dele está escrito’”.
Não podemos deixar de ressaltar que nesse episódio acontece algo especial que vem contrariar aquilo que dizem sobre a comunicação com os mortos. É, caro leitor, no passo encontramos, nada mais, nada menos, do que o próprio Jesus conversando com dois mortos – Moisés e Elias; isso prova que o intercâmbio com os que vivem no plano espiritual jamais foi uma proibição divina.
- Mateus 17,10-13: “Os discípulos de Jesus lhe perguntaram: ‘O que querem dizer os doutores da Lei, quando falam que Elias deve vir antes? ’ Jesus respondeu: ‘Elias vem para colocar tudo em ordem. Mas eu digo a vocês: Elias já veio, e eles não o reconheceram. Fizeram com ele tudo o que quiseram. E o Filho do Homem será maltratado por eles do mesmo modo’. Então os discípulos compreenderam que Jesus falava de João Batista”.
- João 3,1-12: “Entre os fariseus havia um homem chamado Nicodemos. Era um judeu importante. Ele foi encontrar-se de noite com Jesus, e disse: ‘Rabi, sabemos que tu és um Mestre vindo da parte de Deus. Realmente, ninguém pode realizar os sinais que tu fazes, se Deus não está com ele’. Jesus respondeu: ‘Eu garanto a você: se alguém não nasce do alto, não poderá ver o Reino de Deus’. Nicodemos disse: ‘Como é que um homem pode nascer de novo, se já é velho? Poderá entrar outra vez no ventre de sua mãe e nascer?’ Jesus respondeu: ‘Eu garanto a você: ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nasce da água e do Espírito. Quem nasce da carne é carne, quem nasce do Espírito é espírito. Não se espante se eu digo que é preciso vocês nascerem do alto. O vento sopra onde quer, você ouve o barulho, mas não sabe de onde ele vem, nem para onde vai. Acontece a mesma coisa com quem nasceu do Espírito’. Nicodemos perguntou: ‘Como é que isso pode acontecer?’ Jesus respondeu: ‘Você é o mestre em Israel e não sabe essas coisas? Eu garanto a você: nós falamos aquilo que sabemos, e damos testemunho daquilo que vimos, mas, apesar disso, vocês não aceitam o nosso testemunho. Se vocês não acreditam quando eu falo sobre as coisas da terra, como poderão acreditar quando eu lhes falar das coisas do céu?’”.
- 1 Coríntios 15,35-49: “Todavia, alguém dirá: ‘Como é que os mortos ressuscitam? Com que corpo voltarão?’ Insensato! Aquilo que você semeia não volta à vida, a não ser que morra. E o que você semeia não é o corpo da futura planta que deve nascer, mas simples grão de trigo ou de qualquer outra espécie. A seguir, Deus lhe dá corpo como quer: ele dá a cada uma das sementes o corpo que lhe é próprio. Nenhuma carne é igual às outras: a carne dos homens é de um tipo, a dos animais é de outro, e de outro a dos pássaros e de outro ainda a dos peixes. Há corpos celestes e há corpos terrestres. O brilho dos celestes, porém, é diferente do brilho dos terrestres. Uma coisa é o brilho do sol, outra o brilho da lua, e outra o brilho das estrelas. E até de estrela para estrela há diferença de brilho. O mesmo acontece com a ressurreição dos mortos: o corpo é semeado corruptível, mas ressuscita incorruptível; é semeado desprezível, mas ressuscita glorioso; é semeado na fraqueza, mas ressuscita cheio de força; é semeado corpo animal, mas ressuscita corpo espiritual. Se existe um corpo animal, também existe um corpo espiritual, pois a Escritura diz que Adão, o primeiro homem, tornou-se um ser vivo, mas o último Adão tornou-se espírito que dá a vida. Primeiro, não foi feito o corpo espiritual, mas o animal, e depois o espiritual. O primeiro homem foi tirado da terra é terrestre; o segundo homem vem do céu. O homem feito da terra foi o modelo dos homens terrestres; o homem do céu é o modelo dos homens celestes. E assim como trouxemos a imagem do homem terrestre, assim também traremos a imagem do homem celeste”.
A Bíblia diz categoricamente que “Está ordenado ao homem morrer uma só vez vindo depois disto o juízo” (Hebreus 9,27). Não existem várias mortes, mas uma só.
Ademais, para que essa passagem fosse algo contra a reencarnação teria que ser dito:
“Está ordenado ao homem viver uma só vez…”, porque morrer mesmo, só morremos uma só vez e bem morrido.
Por todos os dados que levantamos e pelos textos bíblicos citados somos levados a aceitar que a reencarnação está, sim, na Bíblia; porém, só para quem “tem olhos de ver”.
Deixamos bem claro, que não temos a pretensão de impor a ninguém essa nossa maneira de pensar, pois é direito natural de cada um acreditar no que quiser.
A reencarnação, por sua própria definição, é um processo biológico, posto que determina a formação de organismos vivos sobre o controle da inteligência que o gera e organiza em diversos tempos de sua evolução. Vejo, hoje, uma série de indicativos da reencarnação dentro da ciência acadêmica, mas que ainda sofrem uma forte pressão dos materialistas; porém, no devido tempo, este conceito eclodirá. Eu citaria o trabalho do médico psiquiatra americano Dr. Ian Stevenson como a mais completa pesquisa acadêmica de que temos notícia, como a conclusão incontestável (aos que olham com imparcialidade) de que a reencarnação já é um fato cientificamente comprovado, só não é aceito ainda. (IANDOLI JUNIOR, 2007, p. 12).
E não menos importante é a opinião de Amit Goswami, considerado o físico quântico da atualidade que está na “crista da onda”, em resposta à pergunta “Em sua abalizada opinião, a reencarnação é científica? ”, disse: “A resposta é um retumbante sim. Pense. Os dados sobre reencarnação dão-nos evidência definitiva de que a mente não é o cérebro, pois ela sobrevive à morte do corpo físico. […]” (GOSWAMI, 2005, p. 243)